Massagem na gravidez traz alívio, mas requer cuidados específicos
IARA BIDERMAN
colaboração para a Folha de S.Paulo
A gravidez é, sem dúvida, um momento
muito especial, mas tem lá os seus desconfortos. Mesmo quando tudo está dentro
do programa, em termos da saúde da mãe e do bebê, há alguns aspectos,
considerados normais e fisiológicos, que interferem no bem-estar da grávida.
A retenção de líquidos, que causa
inchaço e sensação de peso nas pernas, as costas que doem, principalmente na
região lombar, e as interrupções no sono pela dificuldade de encontrar uma boa
posição para dormir quando a barriga cresce são queixas comuns.
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Leonardo Wen/Folha Imagem
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A gerente de marketing Luna Weyel, 28, realizou automassagem durante a
gestação de seu filho Davi, que nasceu no último dia 5
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Uma sessão de massagem é uma boa forma
de minimizar esses males. A mais popular na gravidez é a drenagem linfática,
para diminuir o inchaço. Mas há outras técnicas com bons efeitos, que são menos
utilizadas, ou por serem menos conhecidas ou por medo de que possam causar
algum dano ao bebê.
Embora todas as técnicas devam ser
aplicadas com cuidados e restrições específicas para a gestação, algumas trazem
preocupações maiores: na reflexologia e no shiatsu, por exemplo, a massagem de
determinados pontos pode estimular contrações uterinas antes da hora. No
entanto, quando são feitas por um bom profissional, contribuem para o bem-estar
da grávida.
A Folha conversou com
especialistas para saber as particularidades de cada tipo de técnica durante a
gravidez. Em todos os casos, a gestante deve perguntar a seu médico se e quando
pode fazer a massagem. Leia a seguir sobre cada uma delas.
Drenagem linfática
É muito recomendada por diminuir a
retenção de líquidos comum nas gestantes. Pode ser feita nos noves meses, mas
não tem efeito preventivo. "Diminui o inchaço temporariamente, mas quem
tem propensão continuará com o problema", diz Mary Nakamura, professora de
obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
É contraindicada para grávidas com
hipertensão não controlada, insuficiência renal, trombose venosa profunda,
infecções de pele e erupções cutâneas. Como a hipertensão pode surgir
subitamente, Miriam Zanetti, fisioterapeuta do grupo de pré-natal da
obstetrícia fisiológica da Unifesp, recomenda que a pressão seja aferida antes
de cada sessão.
A grávida deita de lado, de preferência
do esquerdo. O abdômen é evitado e a massagem deve ser superficial.
Shiatsu
Os pontos que correspondem a diferentes
órgãos do corpo são os mesmos da acupuntura. Entre os que podem levar ao aborto
e não devem ser estimulados, estão os relativos ao intestino grosso e ao
baço-pâncreas.
A fisioterapeuta e acupunturista
Sabrina Rodrigues, do Shiatsu Luiza Sato, diz que muitos médicos contraindicam
a massagem no primeiro trimestre, mas que, se aplicada por terapeuta
qualificado, pode ajudar inclusive nessa fase. "É possível reduzir o enjoo
do começo da gravidez", afirma.
A massagem também favorece a
circulação, alivia dores lombares e diminui a ansiedade.
A sessão começa com a pessoa sentada e,
depois, deitada na cama -por até dez minutos de costas, caso não se sinta mal,
e de lado no restante do tempo.
Automassagem
Não tem efeito terapêutico, mas pode
aumentar o bem-estar. "Ela melhora a autoestima, que sofre muito impacto
na gravidez", diz Hugo Sabatino, professor de ginecologia da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas). Um estudo da universidade e da empresa de
cosméticos Natura mostrou que, enquanto a massagem relaxou intensamente 75% das
gestantes, o banho teve esse efeito em 57%; 91% relataram melhora na qualidade
do sono.
Flávia Guimarães, médica do Instituto
do Sono de Campinas, diz que, a partir do sexto mês, o sono é fragmentado.
"A massagem é interessante pois há pouco a ser feito nesse caso."
Luna Weyel, 28, que teve seu filho Davi no último dia 5, fez automassagem
durante toda a gestação. "Era super-relaxante e me preparava para dormir
bem", conta.
Massagem pélvica
Novidade na preparação para o parto
normal, essa massagem completa os exercícios de fortalecimento do períneo.
Alonga as fibras musculares do assoalho pélvico e aumenta a distensibilidade do
períneo. "Isso pode evitar a episiotomia [corte na região do períneo para
alargar o canal de parto e evitar ruptura dos músculos] no parto vaginal",
diz Mary Nakamura, da Unifesp.
A massagem é feita pela grávida,
orientada por um especialista. No grupo de pré-natal da obstetrícia fisiológica
da Unifesp, a técnica é ensinada.
Miriam Zanetti diz que deve ser feita a
partir da 34ª semana de gestação. "O assoalho pélvico ganha alongamento
para ser distendido no parto e voltar ao estado normal sem rompimento das
fibras musculares", diz.
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Marisa Cauduro/Folha Imagem
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Iracema do Nascimento, 36, grávida de seu primeiro filho, faz massagem
relaxante uma vez por semana
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Massagem relaxante
Boa para diminuir as lombalgias e a
ansiedade, pode ser feita durante toda a gravidez. A manipulação precisa ser
mais suave do que o usual pois, nas costas, estão os centros de enervação do
útero, que não podem ser muito estimulados durante a gestação.
A gestante fica deitada de lado e são
colocadas almofadas entre as pernas e sob a cabeça, para garantir uma posição
mais confortável. "A grávida precisa estar à vontade. E a manipulação tem
de ser suave, não é para sentir dor", diz a naturóloga Camila Vieira, que
faz massagem para grávidas no Gama (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa), em São
Paulo.
Diferentes técnicas podem ser
combinadas, e alguns pontos não devem ser massageados na gravidez porque
estimulam as contrações uterinas.
Mesmo evitando esses pontos, Vieira só
utiliza a técnica a partir do terceiro mês de gestação -o risco de aborto espontâneo
é maior no primeiro trimestre.
Ela acredita que uma sessão de massagem
por semana é o suficiente para aumentar o bem-estar. Para Iracema do
Nascimento, 36, grávida de 38 semanas do primeiro filho, essa periodicidade já
ajuda a diminuir a dor nas costas e a ansiedade. "É também uma massagem no
ego: você está se cuidando e cuidando do bebê."
Massagem ayurvédica
Usando princípios da medicina
tradicional indiana, essa massagem alonga e relaxa os músculos e melhora a
respiração. A fisioterapeuta Marcia Riga, coordenadora técnica do Buddha Spa,
em São Paulo, diz que muitos movimentos são baseados nas posições da ioga. Eles
podem ser feitos com a grávida deitada de lado ou sentada.
Riga recomenda que a técnica seja usada
somente a partir do segundo trimestre. A massagem é feita da cabeça aos pés. Em
gestantes, os alongamentos precisam ser realizados com mais cuidado, sem forçar
muito. Isso porque alguns hormônios liberados na gravidez relaxam os ligamentos
que suportam as articulações, tornando-as instáveis e propícias a lesões.
Para a bancária Jéssica Praum, 32,
grávida de 28 semanas, o poder relaxante da massagem é um de seus pontos
fortes. "Essa é uma fase de muitas emoções e é preciso ter um tempo só seu
para não ficar muito estressada."
Massagem na água
A massagem subaquática é feita em uma
banheira em que um profissional direciona jatos de água nas pernas, braços e
costas da gestante.
Jona Haertel, diretor clínico do Spa
Lapinha, no Paraná, diz que a técnica melhora a circulação e é altamente relaxante.
"Na água, o corpo fica 40% mais leve, o que facilita os efeitos da
massagem", diz.
Outra técnica é o watsu -ou shiatsu na
água. A grávida fica flutuando numa piscina enquanto são feitos movimentos para
alongar a coluna. O meio aquático permite que ela fique de barriga para cima.
Fora da água, por causa do peso da barriga e da compressão causada no
diafragma, essa posição causa desconforto.
Segundo Haertel, esse tipo de massagem
não deve ser feito nos três primeiros meses da gravidez. Após esse período, os
movimentos ou jatos de água não devem ser muito fortes nem atingir a região
abdominal.
Reflexologia
São massageados pontos dos pés que
correspondem a partes do corpo. Deve ser feita por um profissional que saiba
quais não podem ser estimulados -os do útero, ovário e trompas estão proibidos.
"Mas pode ser útil para estimular
o processo digestivo e resolver a constipação intestinal, comum em
grávidas", diz Michele Paschui, professora do curso de naturologia da
Universidade Anhembi-Morumbi. Também controla a pressão.
Para deslizar
- Óleos e cremes à base de cânfora e
arnica podem ter efeito negativo sobre o feto.
- Cremes anticelulite, principalmente os com substâncias vasodilatadoras e
cafeína, também não são recomendados.
- O produto deve ter baixo potencial alergênico.
- Produtos sem corantes e substâncias químicas são os mais indicados.
- Os aromas devem ser suaves, pois é comum a grávida ficar com o olfato mais
apurado.
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